Temos grande fascínio pela Viagem, assim mesmo, com maiúscula. Antes de nascerem as manas M, tivemos a sorte e o privilégio de viajar um bom bocadinho. Íamos sempre em época baixa, em Maio e Novembro, para destinos de sol, e assim conhecemos uma série de países. Gostamos de ficar em casa dos locais, de provar os sabores, sentir os perfumes, perceber os costumes, o mais intrinsecamente possível. (Espero não me estar a repetir, que este blog já vai longo e, se calhar, já escrevi isto tudo e não me recordo.) Para aproveitar o melhor que conseguíssemos, saíamos dos respectivos trabalhos para o aeroporto, a maior parte das vezes um bom bocado em cima da hora, deixando atrás de nós comentários como "Vocês não são bons da cabeça! Não vão chegar a tempo!", mas chegávamos :) Numa dessas corridas e sem termos almoçado, quando o aeroporto de Lisboa ainda não tinha sido remodelado e só havia 2 ou 3 restaurantezitos, corremos ao Mc Donald's porque era o mais rápido. Tornou-se uma tradição e sempre que temos um avião para apanhar em Lisboa, temos de lá voltar. É o início das férias! Com a Mathilde e a Manon criámos outra tradição. Há sempre fotografias assim que entramos no aeroporto.
Em Junho estivemos em Guadeloupe, a ilha Papillon, nas antilhas francesas. O Xavier e eu já lá tínhamos estado, a passar o ano de 97 para 98. Foi nostálgico voltar, e muito bom fazê-lo com a Mathilde e a Manon. Foram 3 semanas TIP TOP! A ilha é linda, a equipa era maravilhosa, o tempo fantástico, a comida óptima, tudo muito muito bom. La Caravelle... Saudades... muitas...
Toda a gente tem medo de qualquer coisa. Há medos que conseguimos varrer para longe e outros que são tão nossos como o fígado, o nariz ou um artelho. Negá-los só serve para os aumentarmos. Se não, vejamos! Imaginemos em desenho animado : o medo aparece, e nós fingimos que ele não está lá e ignoramo-lo. O que pensa o medo? "Então mas eu faço parte dela como as restantes partes dela e ela não me liga nenhuma?" E fica furioso, e acende tudo a néon, bolsa de espelhos, focos de aeroporto, todo o asernal de iluminação que possui (e, believe me, é extenso) para que o vejamos, o medo gosta de dar nas vistas, sobretudo quando se sente negligenciado. Daí até ao pânico, o grau aumentativo do referido nome, por vezes, é um pulito. Ora, para que isto não aconteça, temos de tratar bem dos nosso medos mais intrínsecos (os outros são para matar, enterrar e transladar, porque fora de nós não nos podem fazer nada), tornarmo-nos amigos deles. Portanto, quando o medo aparece, há que conversar com ele, integrá-lo, porque assim, ele sente-se aconchegadinho, parte do todo, e sossega. A Manon, às vezes tem medo, daqueles medos que não têm nome mas que assustam muito também por isso. Há uns tempos pu-la a conversar com ele. "Olá medo. Não gosto quando me assustas. Podes ficar aí, mas aos pés da cama, ok? E dormimos bem os dois." E domem bem os dois. Aa crianças são sábias. São capazes de fazer maravilhas com pouca coisa. A magia da criatividade em todo o seu esplendor. Minha linda menina, és mágica.
As actividades desportivas do concelho onde vivemos, cortam os trajectos habituais e obrigam a desvios que, por sua vez, entopem o trânsito. Numa dessas ocasiões, em que para fazermos um percurso curto, demorámos longo tempo, pelo meio de amontoados de carros, uns perdidos, outros enervados, outros apanhados de surpresa como era o nosso caso, o Xav vociferava, danado com a frequência ( já era a 3ª ou 4ª em poucas semanas) destes cortes de estradas. Pela sua boca saíam impropérios em francês contra a situação e a aparente impotência das autoridades para resolverem competentemente o entupimento. Aproveitando um silêncio, a Manon: - Concordo em absoluto com o papá. Mas com palavras mais bonitas.
Há mais de um ano, passámos na Funny, uma loja cheia de peluches, bonecos e mil outros objectos que atraem as crianças, sem piedade pela carteira dos pais. A Manon perdeu-se de amores por um palhaço GIGANTE. Quando digo GIGANTE, não estou a exagerar. A Manon adora peluches, até já me disse que, quando for grande quer ser inventora de peluches. Ora o belo do palhaço custava nem mais nem menos que 169,99€. Combinámos pois que ela iria juntar dinheiro para o comprar. Chegou a casa e pôs-se a contar as moedinhas pretas do seu frasco. E a Mathilde a ajudar. Fizeram contas em papéis para não se enganarem, guardaram as anotações e, de cada vez que a Manon conseguia umas moedinhas pretas, iam juntá-las ao mealheiro. Entretanto, de cada vez que passávamos na loja, ela suspirava pelo palhaço, que lá continuava, sentado, como que à sua espera. Ao fim de quase um ano, ela tinha o dinheiro necessário. Voltámos à Funny. E nada de Palhaço. Onde é que ele estava? Pois que tinha sido vendido na véspera, que tinha passado uma menina com o pai, que tinha pedido o palhaço, que o pai tinha comprado. "Assim? Sem esforço nenhum??" - A Manon era a rainha da desilusão naquele momento. Lá encomendámos um palhaço novo. Demorou 4 meses a chegar. Fui com a Mathilde buscá-lo, em segredo. Foi a surpresa da época. A Manon ficou tão contente que passou a dormir com ele. Happy - o nome bordado na sola de um dos sapatos não podia ser mais apropriado. E para que não se pense que exagero quando digo GIGANTE, veja-se!
Adoro o "Música no coração". Todo aquele universo musical cheio de crianças me fascina. Adoro o "Mary Poppins", pela mesma razão e ainda porque a magia é maravilhosa. Como resistir a "uma colher cheia de açúcar ajuda o remédio a descer", a conseguir tirar de sacos de viagem mil e uma coisas inesperadas, entre elas um candeeiro de pé alto, a arrumar o quarto apenas pela vontade e quase sem mexer um dedo, a saltar para dentro de chaminés e para dentro de desenhos animados, a conversar com a pega do guarda-chuva, a dançar e cantar como se a vida fosse um musical, a voar? (Só não me agrada o "Feed the birds" porque não acho graça aos pombos, só me lembram doenças... Quer dizer, também me lembram correio, e fotografias no Rossio, quando eu era pequenina, a atirar-lhes milho comprado para o efeito minuto antes... o mundo alterou-se um pouco desde então.) As manas M também adoram. Quem nunca teve um momento Mary Poppins, na vida, não sabe o que perdeu!
Ainda me lembro, e às vezes comento, que uma das coisas que pedia em segredo era que a Mathilde e a Manon cantassem afinadas. Foi-me concedida realização desse desejo. As manas cantam cada vez melhor.
E cantam por todo o lado e a toda a hora, como desde sempre. É um prazer! Obrigada!